O que me atraiu na escuridão da noite, foi a luz de duas estrelas… Não sei onde foste buscar o brilho que apenas existe nos teus olhos …Olhos que contam tantas histórias, olhos repletos de recordações do futuro, qual um madrigal bucólico que derrete as pedras da rua que transpiram saudade… Saudade… Palavra amarga, que ao ser vingada torna-se ténue e doce.
3 documentos (infelizmente não legendados) resgatados ao youtube, com registos de Frans Brüggen, um dos mentores do Movimento da Nova Música Antiga, em interpretações de compositores de diferentes épocas. Polémicas à parte, há-que ter em conta a abertura artística deste músico que, tal como outros da NMA - e ainda hoje, e cada vez mais - colaboram em projectos de Música Contemporânea.
"La Clemenza di Tito", para muitos a obra-prima de Mozart.
É difícil dizer qual a versão que é mais fácil admirar... desde a de Karl Böhm, passando pela de Colin Davies, até à mais recente, por Renée Jacobs. Entretanto, aqui fica, numa interpretação de J. E. Gardiner, o notável "Che del ciel, che degli Dei" que, destacando-se já quase no final desta ópera (a última do compositor), sempre me pareceu ser uma piscadela de olho ao abandonado barroco...
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
Desapareceu, sem ler o poema que para ela concebi. Aquele em que, numa flor, em cada pétala, residia um tormento. Uma resvala pelos beijos de carne que nunca sorvi. Outra, sequiosamente, afasta-me do medo que me causa frio. Outra, acaricia o momento que se equipara à hora da morte. Mais uma lágrima de flor, pelas virtudes que procuro à margem do mundo, no canto da sala escura, longe, lá longe em horas indefiníveis. Não agarrei a flor atempadamente, esmagando-se no chão de cacos de vidro e pés bailarinos. Quase escorreguei com o risco de perturbar uma qualquer cerimónia real, despropositadamente pomposa, sucumbindo a um conto religiosamente incorrecto que mitiga paixões incongruentes. No meu júbilo, quis que fosse ela a primeira a falar, porém, ela queria que fosse eu. A sua candura divorciou-se da incursão que fizera nos meus olhos, já que a subtileza preencheu em demasia os meus gestos. Um. Teria bastado um só sorriso, mesmo despropositado, para que a noite palpitasse e cedesse ao sossego idilizante no vagaroso silêncio do éter. Ainda lhe vigiei os passos já distantes no miasma do ruído. Perdi-a, sem que lesse o meu poema. Ansiei-a nas horas seguintes, guardando as pétalas na algibeira, esperançado por entregar-lhas quando a revisse, para que reconstituísse a flor que, inadvertidamente, eu próprio quebrara. Escondi-a dos outros por vergonha, mas as sedas dissimuladas na minha mão cerrada secaram, estalaram ao ponto de me magoarem como os vidros pisados nesse chão sombrio. Só assim compreendi que ela jamais existira.
A dreaded sunny day So I meet you at the cemetery gates Keats and Yeats are on your side
A dreaded sunny day So I meet you at the cemetery gates Keats and Yeats are on your side While Wilde is on mine
So we go inside and we gravely read the stones All those people all those lives Where are they now? With the loves and hates And passions just like mine They were born And then they lived and then they died Seems so unfair And I want to cry
You say: "ere thrice the sun done salutation to the dawn" And you claim these words as your own But I've read well, and I've heard them said A hundred times, maybe less, maybe more
If you must write prose and poems The words you use should be your own Don't plagiarise or take "on loans" There's always someone, somewhere With a big nose, who knows And who trips you up and laughs When you fall Who'll trip you up and laugh When you fall
You say: "ere long done do does did" Words which could only be your own And then you then produce the text From whence was ripped some dizzy whore, 1804
A dreaded sunny day So let's go where we're happy And I meet you at the cemetery gates Oh Keats and Yeats are on your side
A dreaded sunny day So let's go where we're wanted And I meet you at the cemetery gates Keats and Yeats are on your side But you lose because Wilde is on mine
Ando, de novo, completamente obcecado pelo Gloria (RV 589) de Vivaldi... não me sai da cabeça, e ando a comparar versões - desde o Hickox com os seus violinos dolentes, ao Alessandrini com a sua celeridade bélica e pompa agitada, passando pela leitura de Preston, com o belíssimo som do coro infantil da Academy of Ancient Music, e claro, na companhia de Emma Kirby (embora a voz dela se evidencie mais com Hickox)... Todavia, deixo aqui um pequeno documento sobre o mais recente registo - o de Alessandrini, de que já falei em tempos, e que se inscreve nessa tarefa extraordinária de reunir em CD todas as 450 partituras manuscritas existentes na colecção da Biblioteca de Turim
Quem me roubou o dia? - A solidão que desagua nesse mar inquieto, onde as redes são maiores que a esperança…
Porque perdi a esperança? - Porque deixei de viver…
Porque é que deixei de viver? - Porque a tristeza quebrou as jangadas e o meu sustento…Porque morro de uma fome, que tinge o meu rosto com tinta de um jornal tão velho quanto a busca de um rumo…
Porque é que quero um rumo? - Porque o sonho nunca se perde, porque ele é o trono do prazer num lugar longínquo.
Porque é que quero estar longe? - Porque ergui o mundo sobre lágrimas, e este afundou-se num mar de dor…E pretendo outro, bem distante daquele que criei…
Quem criou o mundo ? - O céu não foi… pois este, chora por mim mas juro nada ver. Ajoelho-me perante deuses que desconheço, e bebo o seu vinho e o seu sangue…
Porque bebo desse sangue? - Porque já não tenho do meu…E grito… grito do fim do deserto da minha vida, desejando que um fio de ouro escorra da minha voz, e me encante comigo próprio…
A tua história é a minha.
domingo, 10 de janeiro de 2010
Quando nos debruçamos nas varandas do Passado, avistamos muitos amigos que nos fazem falta. Mas depressa reparamos que já se encontram muito distantes. Nesse momento, temos a certeza que será difícil, ou mesmo impossível, alcançá-los ou sequer gritar pelos seus nomes.
Felizmente, alguns deles vão permanecendo perto de nós, e complementam-nos com tudo aquilo que precisamos - partilhando experiências, sejam boas ou más; emprestando-nos o seu riso e as suas lágrimas, ou no mínimo, comunicando-nos um olhar de cumplicidade no silêncio de uma sala cheia.
Todos me são importantes, mas existem dias em que alguns, por alguma razão, se tornam ainda mais importantes.
Tenho vindo a apreciar bastante esta abordagem às Suites para Violoncelo de Bach que, através dos dedos bailarinos de Anne Gastinel, convida à dança, mesmo nos momentos mais contemplativos.
Será talvez interessante contrastar esta leitura com a de Sigiswald Kuijken que, há algum tempo, aqui coloquei.