sábado, 13 de julho de 2013

BACH por J. E. Gardiner

Se fosse obrigado a escolher um único ciclo de música para levar comigo para a mítica, embora tão mencionada, “ilha deserta”, escolheria imediatamente o riquíssimo e ainda inultrapassável universo das Cantatas de Bach.

Durante os últimos anos, tive o privilégio de conhecer as diversas interpretações desta integral - desde a primeira realização, dirigida por Karl Richter (contando com um elenco de solistas realmente emblemático, embora pese uma vertente sinfónica que lhe confere um anacronismo demasiado evidente), passando pela gravação partilhada por Harnoncourt e Leonhardt (com todos os conhecidos problemas que lhe são inerentes, embora desculpáveis no seio de uma ingenuidade arqueológico-musical que a determinou), até às mais recentes versões (tanto do “historicamente esclarecido” Ton Koopman, como de um Helmuth Rilling, não-praticante da ortodoxia de execução em instrumentos da época).

Finalmente, e sem hesitações, devo salientar a mais nova gravação que se encontra disponível, e que se impõe perante todas as outras: a de John Eliot Gardiner, enquadrando uma inegável qualidade interpretativa num equilíbrio de texturas audiófilas que nunca ouvira antes.

Não posso deixar de referir o fabuloso e também recentíssimo ciclo dirigido por Masaaki Suzuki, que seria a minha escolha óbvia, caso Gardiner não se tivesse lançado nesta aventura que o conduziu a uma peregrinação musical repleta das mais fecundas nuances que alimentam, deliciosamente, os nossos ouvidos.

sábado, 25 de agosto de 2012

Crónicas de Ânclios : o crítico em nós

De certeza que todos se lembram do período em que Ozzy Osbourne era concorrente habitual do Festival Eurovisão da Canção.
Em meados dos anos 70, numa das mais faladas edições do Festival, ao interpretar a composição de sua autoria “Goodbye to romance”, e num golpe de teatro muito ao seu estilo, decidiu exibir uma ratazana, mordendo-a até esta começar a guinchar. O espectáculo foi interrompido pois temia-se que o animal começasse a sangrar para o chão do palco, havendo o risco de alguém escorregar e cair. Contudo, não foi esta atitude de Ozzy que acabou por desclassificá-lo, mas sim o facto de, a certa altura, os dois elementos femininos dos ABBA terem saído a correr e a gritar dos bastidores, com marcas de dentes no pescoço.
“So tired”, que aqui vos deixo, foi outra das músicas que Ozzy levou à Eurovisão.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Crónicas de Ânclios : o crítico em nós

Irei contar-vos algo que vos poderá chocar: fui o primeiro a saber que Elvis não tinha morrido, tendo confraternizado com ele nos dias difíceis pós-pseudo-rigor mortis.
Tudo começou num belo dia de Setembro de 1977, estava eu a comer uma francesinha no Porto (onde vivia nessa altura, dando aulas de guitarra ao Rui Veloso), quando fui surpreendido por um telefonema do Elvis – que eu julgava morto - a pedir que eu fosse ter com ele a Matosinhos, pois estava com desejos de sapateira. Mal o reconheci, ao chegar à cervejaria onde combinara encontrar-me com ele, pois ao deixar de usar a sua famosa peruca, encontrava-se completamente careca . Ao ver-me, desatou num pranto compulsivo e afirmou que não aguentara a pressão, tendo encenado a sua própria morte, pois já não conseguia envergar os trajes medonhos com que o público costumava vê-lo, não imaginando uma indumentária que conseguisse desmantelar a imagem criada pela anterior. Outra das razões por ele focadas para ter feito o que fez, prendia-se com a sua voz que esmorecia a ouvidos vistos. "O problema, meu caro Ânclios, é que não vivo sem o palco!", confidenciou-me, aos gritos, enquanto tragava mais um fino, pousado entre 2 riscos de coca desenhados na mesa onde competiam, entre si, baratas do tamanho dos olhos vermelhos do cantor. Pediu-me refúgio em minha casa, para estar longe de tudo e de todos.
Lembro-me que andou perdido, sem saber o que fazer, durante dias... Eu bem o incentivava, levando-o a provar tripas enfarinhadas, papas de sarrabulho e as já mencionadas francesinhas - essas, ele provou numa escapadinha que demos a Paris. Todavia, eu não conseguia fazer com que ele reencontrasse a alegria de viver. Uma tarde, ao ouvirmos em vinil “A viúva alegre”, virou-se para mim, ajeitando no ar, em jeito de tique, a sua poupa inexistente, e perguntou-me: "O que há de novo na música pop?". Acto contínuo, dei-lhe a conhecer Village People, ao que decidiu imediatamente contactá-los para actuar com eles, pedindo-lhes sigilo relativamente à identidade. Porém, manteve-se nos Village People durante pouco tempo, pois o facto de envergar uma armadura medieval não lhe dava jeito para executar as coreografias, embora o protegesse dos “avanços” dos outros membros do grupo.
Após diversas incursões em bandas como Misfits, Kiss, ZZ Top, entre muitas outras que se maquilhavam ou mascaravam, dedica-se hoje a fazer aparições-relâmpago em Las Vegas, que preenchem páginas de revistas cor-de-rosa. Pontualmente, colabora com a banda Gwar.

sábado, 5 de maio de 2012

Crónicas de Ânclios : o crítico em nós


Quando os Gorgoroth, banda de black metal conhecida por adorar satanás, decidiram, em 2004, realizar um concerto ao vivo/missa satânica, em Cracóvia (cidade onde viveu João Paulo 2), tal foi interpretado como sendo uma afronta às crenças locais, despoletando de imediato diversos protestos por parte de pessoas conhecidas por adorar o papa.
Desta forma, os Gorgoroth chegaram a um acordo com a igreja católica, que se resumia em 3 pontos:

1. Não poderiam usar na encenação do concerto, corpos despidos e crucificados;

2. Não poderiam utilizar, durante a actuação, a palavra “satan”;

3. Não poderiam utilizar diversos instrumentos musicais, nomeadamente um órgão que, a cada pressão das teclas, despoletava martelos que atingiam gatos que se encontravam amarrados e dispostos sequencialmente de forma a produzir miados segundo a escala árabe.

Obviamente que os Gorgoroth, na noite do espectáculo, apenas obedeceram ao ponto 3, que era, todavia, aquele que menos incomodava os papistas.

domingo, 22 de abril de 2012

Crónicas de Ânclios : o crítico em nós




Desde há algum tempo que se acredita no mito que afirma que os anos 80 produziram a melhor música pop e rock alguma vez ouvida no planeta. É às pessoas que acreditam nesta crença tão consensualmente difundida, que dirijo as próximas palavras, fazendo-lhes ver que houve muito mais por trás daquilo que conhecem, já que existem cenas de extrema violência, que mancham de sangue os registos em vinil que guardamos na nossa memória (ou no armário poeirento onde as aranhas dançam – ainda - ao som dos Modern Talking ). 
Sem mais demoras, o relato que vos trago resume-se ao seguinte: 
Robert Smith, célebre vocalista dos The Cure, convidou Morrissey, na altura vocalista dos celebrados The Smiths, para jantar em sua casa. Como se sabe, Morrissey é vegetariano, e faz questão de se assumir como tal. Sucede que, Robert Smith desconhecia esta faceta do cantor, tendo preparado umas belíssimas costeletas de borrego com batatinhas assadas no forno. Morrissey, ao deparar com tal espectáculo, que considerou de extremo mau gosto, enfiou a cabeça de Robert Smith no forno (aceso), tendo queimado irremediavelmente o couro cabeludo do cantor dos The Cure, que foi obrigado a usar, a partir daquele momento, uma peruca de cabelo tufado que tão bem conhecemos e que ele nunca mais largou, estando até hoje, e apesar da violência que antecedeu esta situação, indirectamente agradecido a Morrissey. Robert Smith, em legítima defesa, ainda teve tempo de dar com uma frigideira na cabeça de Morrissey, que desde aí ficou achatada, tentando-a ainda hoje camuflar, em vão, com a  robusta poupa, que também tão bem conhecemos. Podemos assim concluir que Morrissey se “divorciou” dos The Smiths, devido ao nome da banda lhe lembrar o Robert. Todavia, antes de tomar esta decisão, ainda compôs o conhecidíssimo tema "Meat is Murder", que dispensa comentários ou apresentações.

domingo, 1 de abril de 2012

Crónicas de Ânclios

 
 
Todos os fãs de Black Metal, conhecem a obsessão de King Diamond por pastéis de Belém. É sempre divertido vê-lo, e de acordo com as suas crenças religiosas, a brincar com a canela, desenhando cruzes invertidas no topo do pastel que se prepara para devorar - é bem sabido que consegue comer uma dúzia, sem hesitações. Após o pseudo-final da sua antiga banda, Mercyful Fate - que tal como tantas outras bandas, se reúne de vez em quando para concertos e lançamentos de álbuns feitos em cima do joelho - , deslocou-se a Lisboa, animado pelo lançamento do seu 1º single, "No presents for Christmas", para se deliciar com os pastéis de Belém, comprar o "Necronomicon" num Alfarrabista do Bairro Alto (infelizmente, nunca chegou a encontrar o livro), e comprar uma guitarra em 3ª mão, na Feira da Ladra, para Michael Denner. Este guitarrista, que o acompanha desde sempre, conseguiu demovê-lo de escrever uma ode aos pastéis de nata na letra da música do mencionado single, sugerindo que substituísse os versos "Amália and Marceneiro eating Bethlehem cakes" pela famosa frase "Tom and Jerry, drinking sherry".

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Gustav

O ocaso do mestre

Podem nomear a nostalgia, a melancolia ou o que bem entendam... Porém, simples momentos como este, em que Gustav Leonhardt, durante o intervalo do concerto, afinava o Cravo (de ouvido), eram magníficos. O ocaso do mestre traz a certeza da saudade perante a memória de instantes irrepetíveis.


terça-feira, 20 de setembro de 2011

Crónicas de Ânclios - o crítico em nós



Julgo que toda a gente conhece a história, mas nunca é demais recordar aquela noite de violenta trovoada, em 1987, quando Zé Pedro, guitarrista dos Xutos & Pontapés, tendo-lhe sido cortada a electricidade em casa, por falta de pagamento, teve a brilhante ideia de se deslocar ao Alto da Damaia, munido da sua guitarra e amplificador, com a finalidade de captar um raio que lhe permitisse captar a energia suficiente para continuar a tocar e a compor. Faltando o elemento essencial – o captador para raios – roubou a antena de televisão de uma casa por onde passou, ligando-a ao amplificador. Por coincidência, o dono da antena, era nem mais nem menos que João Wolf, guitarrista dos Tarântula que estava em Lisboa, na sua casa de férias na Damaia, e que nessa altura via a telenovela, acompanhado pelo vocalista, Carlos Meinedo, para melhor se inspirarem para a escrita do futuro hit “Battle of the Victory”. Estes dois, ao aperceberem-se do roubo, soltaram os dois pastores alemães que mantinham no quintal, os três gatos siameses que haviam tomado um medicamento com taurina, e um porco selvagem com hiper-sensibilidade auditiva, tendo sido Zé Pedro perseguido Damaia fora, não conseguindo ir muito longe, devido ao peso que levava consigo. Os animais só pararam de o morder quando um raio atingiu a antena que Zé Pedro segurava, e com a qual tentava defender-se. Nessa noite alucinante, e após breve hospitalização do guitarrista – que, como se sabe, sofreu danos auditivos bastante graves devido ao impacto do raio – surgiu a Tim, a ideia para o título do LP “Circo de Feras”, que se tornou num dos álbuns mais vendidos da banda, e lhes trouxe o reconhecimento. Quanto aos Tarântula, devido a terem perdido a telenovela, ficaram-se nesse ano pelo original título de LP “Tarântula”.