Se
fosse obrigado a escolher um único ciclo de música para levar comigo
para a mítica, embora tão mencionada, “ilha deserta”, escolheria
imediatamente o riquíssimo e ainda inultrapassável universo das Cantatas
de Bach. Durante os últimos anos, tive o privilégio de
conhecer as diversas interpretações desta integral - desde a primeira
realização, dirigida por Karl Richter (contando com um elenco de
solistas realmente emblemático, embora pese uma vertente sinfónica que
lhe confere um anacronismo demasiado evidente), passando pela gravação
partilhada por Harnoncourt e Leonhardt (com todos os conhecidos
problemas que lhe são inerentes, embora desculpáveis no seio de uma
ingenuidade arqueológico-musical que a determinou), até às mais
recentes versões (tanto do “historicamente esclarecido” Ton Koopman,
como de um Helmuth Rilling, não-praticante da ortodoxia de execução em
instrumentos da época). Finalmente, e sem hesitações, devo salientar a mais nova
gravação que se encontra disponível, e que se impõe perante todas as
outras: a de John Eliot Gardiner, enquadrando uma inegável qualidade
interpretativa num equilíbrio de texturas audiófilas que nunca ouvira
antes. Não posso deixar de referir o fabuloso e também
recentíssimo ciclo dirigido por Masaaki Suzuki, que seria a minha
escolha óbvia, caso Gardiner não se tivesse lançado nesta aventura que o
conduziu a uma peregrinação musical repleta das mais fecundas nuances
que alimentam, deliciosamente, os nossos ouvidos.
De certeza que todos se lembram do período em que Ozzy Osbourne era concorrente habitual do Festival Eurovisão da Canção.
Em meados dos anos 70, numa das mais faladas edições do Festival, ao
interpretar a composição de sua autoria “Goodbye to romance”, e num
golpe de teatro muito ao seu estilo, decidiu exibir uma ratazana,
mordendo-a até esta começar a guinchar. O espectáculo foi interrompido
pois temia-se que o animal começasse a sangrar para o chão do palco,
havendo o risco de alguém escorregar e cair. Contudo, não foi esta
atitude de Ozzy que acabou por desclassificá-lo, mas sim o facto de, a
certa altura, os dois elementos femininos dos ABBA terem saído a correr e
a gritar dos bastidores, com marcas de dentes no pescoço. “So tired”, que aqui vos deixo, foi outra das músicas que Ozzy levou à Eurovisão.
Irei
contar-vos algo que vos poderá chocar: fui o primeiro a saber que Elvis
não tinha morrido, tendo confraternizado com ele nos dias difíceis
pós-pseudo-rigor mortis. Tudo começou num belo dia de Setembro de
1977, estava eu a comer uma francesinha no Porto (onde vivia nessa
altura, dando aulas de guitarra ao Rui Veloso), quando fui surpreendido
por um telefonema do Elvis – que eu julgava morto -
a pedir que eu fosse ter com ele a Matosinhos, pois estava com desejos
de sapateira. Mal o reconheci, ao chegar à cervejaria onde combinara
encontrar-me com ele, pois ao deixar de usar a sua famosa peruca,
encontrava-se completamente careca . Ao ver-me, desatou num pranto
compulsivo e afirmou que não aguentara a pressão, tendo encenado a sua
própria morte, pois já não conseguia envergar os trajes medonhos com que
o público costumava vê-lo, não imaginando uma indumentária que
conseguisse desmantelar a imagem criada pela anterior. Outra das razões
por ele focadas para ter feito o que fez, prendia-se com a sua voz que
esmorecia a ouvidos vistos. "O problema, meu caro Ânclios, é que não
vivo sem o palco!", confidenciou-me, aos gritos, enquanto tragava mais
um fino, pousado entre 2 riscos de coca desenhados na mesa onde
competiam, entre si, baratas do tamanho dos olhos vermelhos do cantor.
Pediu-me refúgio em minha casa, para estar longe de tudo e de todos.
Lembro-me que andou perdido, sem saber o que fazer, durante dias... Eu
bem o incentivava, levando-o a provar tripas enfarinhadas, papas de
sarrabulho e as já mencionadas francesinhas - essas, ele provou numa
escapadinha que demos a Paris. Todavia, eu não conseguia fazer com que
ele reencontrasse a alegria de viver. Uma tarde, ao ouvirmos em vinil “A
viúva alegre”, virou-se para mim, ajeitando no ar, em jeito de tique, a
sua poupa inexistente, e perguntou-me: "O que há de novo na música
pop?". Acto contínuo, dei-lhe a conhecer Village People, ao que
decidiu imediatamente contactá-los para actuar com eles, pedindo-lhes
sigilo relativamente à identidade. Porém, manteve-se nos Village People
durante pouco tempo, pois o facto de envergar uma armadura medieval não
lhe dava jeito para executar as coreografias, embora o protegesse dos
“avanços” dos outros membros do grupo. Após diversas incursões em
bandas como Misfits, Kiss, ZZ Top, entre muitas outras que se
maquilhavam ou mascaravam, dedica-se hoje a fazer aparições-relâmpago em
Las Vegas, que preenchem páginas de revistas cor-de-rosa. Pontualmente,
colabora com a banda Gwar.
Quando os Gorgoroth, banda de black metal conhecida por adorar satanás,
decidiram, em 2004, realizar um concerto ao vivo/missa satânica, em
Cracóvia (cidade onde viveu João Paulo 2), tal foi interpretado como
sendo uma afronta às crenças locais, despoletando de imediato diversos protestos por parte de pessoas conhecidas por adorar o papa. Desta forma, os Gorgoroth chegaram a um acordo com a igreja católica, que se resumia em 3 pontos:
1. Não poderiam usar na encenação do concerto, corpos despidos e crucificados;
2. Não poderiam utilizar, durante a actuação, a palavra “satan”;
3. Não poderiam utilizar diversos instrumentos musicais, nomeadamente
um órgão que, a cada pressão das teclas, despoletava martelos que
atingiam gatos que se encontravam amarrados e dispostos sequencialmente
de forma a produzir miados segundo a escala árabe.
Obviamente
que os Gorgoroth, na noite do espectáculo, apenas obedeceram ao ponto 3,
que era, todavia, aquele que menos incomodava os papistas.
Desde há algum tempo que se acredita no mito que afirma que os anos 80
produziram a melhor música pop e rock alguma vez ouvida no planeta. É às
pessoas que acreditam nesta crença tão consensualmente difundida, que dirijo as
próximas palavras, fazendo-lhes ver que houve muito mais por trás daquilo que
conhecem, já que existem cenas de extrema violência, que mancham de sangue os registos
em vinil que guardamos na nossa memória (ou no armário poeirento onde as
aranhas dançam – ainda - ao som dos Modern Talking ).
Sem mais demoras, o
relato que vos trago resume-se ao seguinte:
Robert Smith, célebre vocalista dos The Cure, convidou Morrissey, na altura
vocalista dos celebrados The Smiths, para jantar em sua casa. Como se sabe,
Morrissey é vegetariano, e faz questão de se assumir como tal. Sucede que,
Robert Smith desconhecia esta faceta do cantor, tendo preparado umas belíssimas
costeletas de borrego com batatinhas assadas no forno. Morrissey, ao deparar
com tal espectáculo, que considerou de extremo mau gosto, enfiou a cabeça de
Robert Smith no forno (aceso), tendo queimado irremediavelmente o couro
cabeludo do cantor dos The Cure, que foi obrigado a usar, a partir daquele
momento, uma peruca de cabelo tufado que tão bem conhecemos e que ele nunca
mais largou, estando até hoje, e apesar da violência que antecedeu esta
situação, indirectamente agradecido a Morrissey. Robert Smith, em legítima
defesa, ainda teve tempo de dar com uma frigideira na cabeça de Morrissey, que
desde aí ficou achatada, tentando-a ainda hoje camuflar, em vão, com a robusta poupa, que também tão bem conhecemos. Podemos
assim concluir que Morrissey se “divorciou” dos The Smiths, devido ao nome da
banda lhe lembrar o Robert. Todavia, antes de tomar esta decisão, ainda compôs o
conhecidíssimo tema "Meat is Murder", que dispensa comentários ou
apresentações.
Todos
os fãs de Black Metal, conhecem a obsessão de King Diamond por pastéis
de Belém. É sempre divertido vê-lo, e de acordo com as suas crenças
religiosas, a brincar com a canela, desenhando cruzes invertidas no topo
do pastel que se prepara para devorar - é bem sabido que consegue comer
uma dúzia, sem hesitações. Após o pseudo-final da sua antiga banda,
Mercyful Fate - que tal como tantas outras bandas, se reúne de vez em
quando para concertos e lançamentos de álbuns feitos em cima do joelho -
, deslocou-se a Lisboa, animado pelo lançamento do seu 1º single, "No
presents for Christmas", para se deliciar com os pastéis de Belém,
comprar o "Necronomicon" num Alfarrabista do Bairro Alto (infelizmente,
nunca chegou a encontrar o livro), e comprar uma guitarra em 3ª mão, na
Feira da Ladra, para Michael Denner. Este guitarrista, que o acompanha
desde sempre, conseguiu demovê-lo de escrever uma ode aos pastéis de
nata na letra da música do mencionado single, sugerindo que substituísse
os versos "Amália and Marceneiro eating Bethlehem cakes" pela famosa
frase "Tom and Jerry, drinking sherry".
Podem nomear a nostalgia, a melancolia ou o que bem entendam... Porém, simples momentos como este, em que Gustav Leonhardt, durante o intervalo do concerto, afinava o Cravo (de ouvido), eram magníficos. O ocaso do mestre traz a certeza da saudade perante a memória de instantes irrepetíveis.
Julgo que toda a gente conhece a história, mas nunca é demais recordar aquela noite de violenta trovoada, em 1987, quando Zé Pedro, guitarrista dos Xutos & Pontapés, tendo-lhe sido cortada a electricidade em casa, por falta de pagamento, teve a brilhante ideia de se deslocar ao Alto da Damaia, munido da sua guitarra e amplificador, com a finalidade de captar um raio que lhe permitisse captar a energia suficiente para continuar a tocar e a compor. Faltando o elemento essencial – o captador para raios – roubou a antena de televisão de uma casa por onde passou, ligando-a ao amplificador. Por coincidência, o dono da antena, era nem mais nem menos que João Wolf, guitarrista dos Tarântula que estava em Lisboa, na sua casa de férias na Damaia, e que nessa altura via a telenovela, acompanhado pelo vocalista, Carlos Meinedo, para melhor se inspirarem para a escrita do futuro hit “Battle of the Victory”. Estes dois, ao aperceberem-se do roubo, soltaram os dois pastores alemães que mantinham no quintal, os três gatos siameses que haviam tomado um medicamento com taurina, e um porco selvagem com hiper-sensibilidade auditiva, tendo sido Zé Pedro perseguido Damaia fora, não conseguindo ir muito longe, devido ao peso que levava consigo. Os animais só pararam de o morder quando um raio atingiu a antena que Zé Pedro segurava, e com a qual tentava defender-se. Nessa noite alucinante, e após breve hospitalização do guitarrista – que, como se sabe, sofreu danos auditivos bastante graves devido ao impacto do raio – surgiu a Tim, a ideia para o título do LP “Circo de Feras”, que se tornou num dos álbuns mais vendidos da banda, e lhes trouxe o reconhecimento. Quanto aos Tarântula, devido a terem perdido a telenovela, ficaram-se nesse ano pelo original título de LP “Tarântula”.