Se
fosse obrigado a escolher um único ciclo de música para levar comigo
para a mítica, embora tão mencionada, “ilha deserta”, escolheria
imediatamente o riquíssimo e ainda inultrapassável universo das Cantatas
de Bach. Durante os últimos anos, tive o privilégio de
conhecer as diversas interpretações desta integral - desde a primeira
realização, dirigida por Karl Richter (contando com um elenco de
solistas realmente emblemático, embora pese uma vertente sinfónica que
lhe confere um anacronismo demasiado evidente), passando pela gravação
partilhada por Harnoncourt e Leonhardt (com todos os conhecidos
problemas que lhe são inerentes, embora desculpáveis no seio de uma
ingenuidade arqueológico-musical que a determinou), até às mais
recentes versões (tanto do “historicamente esclarecido” Ton Koopman,
como de um Helmuth Rilling, não-praticante da ortodoxia de execução em
instrumentos da época). Finalmente, e sem hesitações, devo salientar a mais nova
gravação que se encontra disponível, e que se impõe perante todas as
outras: a de John Eliot Gardiner, enquadrando uma inegável qualidade
interpretativa num equilíbrio de texturas audiófilas que nunca ouvira
antes. Não posso deixar de referir o fabuloso e também
recentíssimo ciclo dirigido por Masaaki Suzuki, que seria a minha
escolha óbvia, caso Gardiner não se tivesse lançado nesta aventura que o
conduziu a uma peregrinação musical repleta das mais fecundas nuances
que alimentam, deliciosamente, os nossos ouvidos.