sexta-feira, 15 de junho de 2012

Crónicas de Ânclios : o crítico em nós

Irei contar-vos algo que vos poderá chocar: fui o primeiro a saber que Elvis não tinha morrido, tendo confraternizado com ele nos dias difíceis pós-pseudo-rigor mortis.
Tudo começou num belo dia de Setembro de 1977, estava eu a comer uma francesinha no Porto (onde vivia nessa altura, dando aulas de guitarra ao Rui Veloso), quando fui surpreendido por um telefonema do Elvis – que eu julgava morto - a pedir que eu fosse ter com ele a Matosinhos, pois estava com desejos de sapateira. Mal o reconheci, ao chegar à cervejaria onde combinara encontrar-me com ele, pois ao deixar de usar a sua famosa peruca, encontrava-se completamente careca . Ao ver-me, desatou num pranto compulsivo e afirmou que não aguentara a pressão, tendo encenado a sua própria morte, pois já não conseguia envergar os trajes medonhos com que o público costumava vê-lo, não imaginando uma indumentária que conseguisse desmantelar a imagem criada pela anterior. Outra das razões por ele focadas para ter feito o que fez, prendia-se com a sua voz que esmorecia a ouvidos vistos. "O problema, meu caro Ânclios, é que não vivo sem o palco!", confidenciou-me, aos gritos, enquanto tragava mais um fino, pousado entre 2 riscos de coca desenhados na mesa onde competiam, entre si, baratas do tamanho dos olhos vermelhos do cantor. Pediu-me refúgio em minha casa, para estar longe de tudo e de todos.
Lembro-me que andou perdido, sem saber o que fazer, durante dias... Eu bem o incentivava, levando-o a provar tripas enfarinhadas, papas de sarrabulho e as já mencionadas francesinhas - essas, ele provou numa escapadinha que demos a Paris. Todavia, eu não conseguia fazer com que ele reencontrasse a alegria de viver. Uma tarde, ao ouvirmos em vinil “A viúva alegre”, virou-se para mim, ajeitando no ar, em jeito de tique, a sua poupa inexistente, e perguntou-me: "O que há de novo na música pop?". Acto contínuo, dei-lhe a conhecer Village People, ao que decidiu imediatamente contactá-los para actuar com eles, pedindo-lhes sigilo relativamente à identidade. Porém, manteve-se nos Village People durante pouco tempo, pois o facto de envergar uma armadura medieval não lhe dava jeito para executar as coreografias, embora o protegesse dos “avanços” dos outros membros do grupo.
Após diversas incursões em bandas como Misfits, Kiss, ZZ Top, entre muitas outras que se maquilhavam ou mascaravam, dedica-se hoje a fazer aparições-relâmpago em Las Vegas, que preenchem páginas de revistas cor-de-rosa. Pontualmente, colabora com a banda Gwar.