De certeza que todos se lembram do período em que Ozzy Osbourne era concorrente habitual do Festival Eurovisão da Canção.
Em meados dos anos 70, numa das mais faladas edições do Festival, ao
interpretar a composição de sua autoria “Goodbye to romance”, e num
golpe de teatro muito ao seu estilo, decidiu exibir uma ratazana,
mordendo-a até esta começar a guinchar. O espectáculo foi interrompido
pois temia-se que o animal começasse a sangrar para o chão do palco,
havendo o risco de alguém escorregar e cair. Contudo, não foi esta
atitude de Ozzy que acabou por desclassificá-lo, mas sim o facto de, a
certa altura, os dois elementos femininos dos ABBA terem saído a correr e
a gritar dos bastidores, com marcas de dentes no pescoço. “So tired”, que aqui vos deixo, foi outra das músicas que Ozzy levou à Eurovisão.
Irei
contar-vos algo que vos poderá chocar: fui o primeiro a saber que Elvis
não tinha morrido, tendo confraternizado com ele nos dias difíceis
pós-pseudo-rigor mortis. Tudo começou num belo dia de Setembro de
1977, estava eu a comer uma francesinha no Porto (onde vivia nessa
altura, dando aulas de guitarra ao Rui Veloso), quando fui surpreendido
por um telefonema do Elvis – que eu julgava morto -
a pedir que eu fosse ter com ele a Matosinhos, pois estava com desejos
de sapateira. Mal o reconheci, ao chegar à cervejaria onde combinara
encontrar-me com ele, pois ao deixar de usar a sua famosa peruca,
encontrava-se completamente careca . Ao ver-me, desatou num pranto
compulsivo e afirmou que não aguentara a pressão, tendo encenado a sua
própria morte, pois já não conseguia envergar os trajes medonhos com que
o público costumava vê-lo, não imaginando uma indumentária que
conseguisse desmantelar a imagem criada pela anterior. Outra das razões
por ele focadas para ter feito o que fez, prendia-se com a sua voz que
esmorecia a ouvidos vistos. "O problema, meu caro Ânclios, é que não
vivo sem o palco!", confidenciou-me, aos gritos, enquanto tragava mais
um fino, pousado entre 2 riscos de coca desenhados na mesa onde
competiam, entre si, baratas do tamanho dos olhos vermelhos do cantor.
Pediu-me refúgio em minha casa, para estar longe de tudo e de todos.
Lembro-me que andou perdido, sem saber o que fazer, durante dias... Eu
bem o incentivava, levando-o a provar tripas enfarinhadas, papas de
sarrabulho e as já mencionadas francesinhas - essas, ele provou numa
escapadinha que demos a Paris. Todavia, eu não conseguia fazer com que
ele reencontrasse a alegria de viver. Uma tarde, ao ouvirmos em vinil “A
viúva alegre”, virou-se para mim, ajeitando no ar, em jeito de tique, a
sua poupa inexistente, e perguntou-me: "O que há de novo na música
pop?". Acto contínuo, dei-lhe a conhecer Village People, ao que
decidiu imediatamente contactá-los para actuar com eles, pedindo-lhes
sigilo relativamente à identidade. Porém, manteve-se nos Village People
durante pouco tempo, pois o facto de envergar uma armadura medieval não
lhe dava jeito para executar as coreografias, embora o protegesse dos
“avanços” dos outros membros do grupo. Após diversas incursões em
bandas como Misfits, Kiss, ZZ Top, entre muitas outras que se
maquilhavam ou mascaravam, dedica-se hoje a fazer aparições-relâmpago em
Las Vegas, que preenchem páginas de revistas cor-de-rosa. Pontualmente,
colabora com a banda Gwar.
Quando os Gorgoroth, banda de black metal conhecida por adorar satanás,
decidiram, em 2004, realizar um concerto ao vivo/missa satânica, em
Cracóvia (cidade onde viveu João Paulo 2), tal foi interpretado como
sendo uma afronta às crenças locais, despoletando de imediato diversos protestos por parte de pessoas conhecidas por adorar o papa. Desta forma, os Gorgoroth chegaram a um acordo com a igreja católica, que se resumia em 3 pontos:
1. Não poderiam usar na encenação do concerto, corpos despidos e crucificados;
2. Não poderiam utilizar, durante a actuação, a palavra “satan”;
3. Não poderiam utilizar diversos instrumentos musicais, nomeadamente
um órgão que, a cada pressão das teclas, despoletava martelos que
atingiam gatos que se encontravam amarrados e dispostos sequencialmente
de forma a produzir miados segundo a escala árabe.
Obviamente
que os Gorgoroth, na noite do espectáculo, apenas obedeceram ao ponto 3,
que era, todavia, aquele que menos incomodava os papistas.
Desde há algum tempo que se acredita no mito que afirma que os anos 80
produziram a melhor música pop e rock alguma vez ouvida no planeta. É às
pessoas que acreditam nesta crença tão consensualmente difundida, que dirijo as
próximas palavras, fazendo-lhes ver que houve muito mais por trás daquilo que
conhecem, já que existem cenas de extrema violência, que mancham de sangue os registos
em vinil que guardamos na nossa memória (ou no armário poeirento onde as
aranhas dançam – ainda - ao som dos Modern Talking ).
Sem mais demoras, o
relato que vos trago resume-se ao seguinte:
Robert Smith, célebre vocalista dos The Cure, convidou Morrissey, na altura
vocalista dos celebrados The Smiths, para jantar em sua casa. Como se sabe,
Morrissey é vegetariano, e faz questão de se assumir como tal. Sucede que,
Robert Smith desconhecia esta faceta do cantor, tendo preparado umas belíssimas
costeletas de borrego com batatinhas assadas no forno. Morrissey, ao deparar
com tal espectáculo, que considerou de extremo mau gosto, enfiou a cabeça de
Robert Smith no forno (aceso), tendo queimado irremediavelmente o couro
cabeludo do cantor dos The Cure, que foi obrigado a usar, a partir daquele
momento, uma peruca de cabelo tufado que tão bem conhecemos e que ele nunca
mais largou, estando até hoje, e apesar da violência que antecedeu esta
situação, indirectamente agradecido a Morrissey. Robert Smith, em legítima
defesa, ainda teve tempo de dar com uma frigideira na cabeça de Morrissey, que
desde aí ficou achatada, tentando-a ainda hoje camuflar, em vão, com a robusta poupa, que também tão bem conhecemos. Podemos
assim concluir que Morrissey se “divorciou” dos The Smiths, devido ao nome da
banda lhe lembrar o Robert. Todavia, antes de tomar esta decisão, ainda compôs o
conhecidíssimo tema "Meat is Murder", que dispensa comentários ou
apresentações.
Todos
os fãs de Black Metal, conhecem a obsessão de King Diamond por pastéis
de Belém. É sempre divertido vê-lo, e de acordo com as suas crenças
religiosas, a brincar com a canela, desenhando cruzes invertidas no topo
do pastel que se prepara para devorar - é bem sabido que consegue comer
uma dúzia, sem hesitações. Após o pseudo-final da sua antiga banda,
Mercyful Fate - que tal como tantas outras bandas, se reúne de vez em
quando para concertos e lançamentos de álbuns feitos em cima do joelho -
, deslocou-se a Lisboa, animado pelo lançamento do seu 1º single, "No
presents for Christmas", para se deliciar com os pastéis de Belém,
comprar o "Necronomicon" num Alfarrabista do Bairro Alto (infelizmente,
nunca chegou a encontrar o livro), e comprar uma guitarra em 3ª mão, na
Feira da Ladra, para Michael Denner. Este guitarrista, que o acompanha
desde sempre, conseguiu demovê-lo de escrever uma ode aos pastéis de
nata na letra da música do mencionado single, sugerindo que substituísse
os versos "Amália and Marceneiro eating Bethlehem cakes" pela famosa
frase "Tom and Jerry, drinking sherry".
Podem nomear a nostalgia, a melancolia ou o que bem entendam... Porém, simples momentos como este, em que Gustav Leonhardt, durante o intervalo do concerto, afinava o Cravo (de ouvido), eram magníficos. O ocaso do mestre traz a certeza da saudade perante a memória de instantes irrepetíveis.