Feras de pedra abafaram o rugido nas tuas muralhas de cinzento encanto, pedaços antigos de abismo, ladainha de pranto de violas da gamba acariciadas por arcos quebrados e folhas de acanto, abaladas pelo troar dos tambores dos mortos e pelas palavras de um cravo com forma de vampiro e dentes de teclado, que me emprestou gestos tortos, perdendo-me em ti, calcorreando, num só passo, Roma, Paris, Madrid, na memória de cada rua, que sob a forma de árvore e jardim se perpetua por entre sulcos de betão e calçadas que ladeiam os riachos antigos da rasgada solidão das aves que apertam o cerco ao tecto azul, quando acordas com o sol ao sul e regurgitas as fraquezas e as náuseas, pois tudo o que perdeste, foi tudo o que perdi, e entre nós apenas partilha senti, numa força que sobrevém, eu sei, pois com ela os portões do Torel trepei, trocando as voltas à história, qual marginal livre, convidado de casa emprestada, pisada por pesadas botas de pele suada, no chão de madeira indolente, escutado por longos cabelos em varandas de marfim ardente, nas excrescências do fumo encrespado, em licor de canela e sangue entornado, ressuscitando rostos andróginos, em chama de vela assustada, aos quais beijei seios, palavras e contos, mais reais que o sonho ou o nada, esvaecendo nos ponteiros do relógio, ébrio, madrugada fora, sem que por nada desse, pois o tempo tudo devora e de todo me entristece, porque sempre me acompanhaste, embalo-me no teu peito, bem perto dos teus lábios, que continuarei a amar quando estes olhos se fecharem pálidos, como o meu corpo tornado cinza nas visões do teu Castelo, ladeado pelos gritos desesperados do dia, vestido pela noite de serenidade luzidia, no leito do teu rio, que nos braços a minha alma em lágrima reflectiu, com esperança me observou, e em vitória me sorriu.
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